Antes demais tenho que me desculpar pela minha ausência. Tive umas semanas bem difíceis que me impediram e tiraram qualquer inspiração.
Ontem como todos sabem foi dia do pai, e este ano, este dia teve um significado diferente.
Este ano não tive a quem ligar.
Recentemente perdi o meu pai, de forma repentina…. Tão repentina que não pude despedir-me da forma que gostaria. Se é que existe forma de nos despedirmos de alguém.
Ele já não vai ver o neto que tanto desejou, crescer…
Ficou tanto por fazer, por dizer, por mostrar, que as vezes acho que quando voltar ao norte, o vou ver, como sempre, a minha espera na estação dos comboios.
O meu pai não era um homem de demonstrar emoções, mas sempre que se despedia de nós quando regressavamos a Lisboa, os seus olhos brilhavam e a sua voz entorpecia.
A perda de um pai ensina-nos o valor do tempo.
O valor das pequenas coisas…
Das visitas e gestos adiados, os telefonemas não atendidos nem retribuídos, os pedidos de desculpas que ficaram por dizer, a compreensão inexistente, a paciência facilmente esgotada…. Tudo volta relembrando o quanto por vezes somos egoístas…
Poucas coisas tem tanto impacto na nossa vida como a morte de um pai/mãe. E deparamo-nos com emoções que por vezes não sabemos lidar. Eu não sabia o que sentir, então, eu não senti nada… Além de um vazio enorme, um buraco no peito e a perda involuntária de lágrimas.
Primeiro veio a negação e raiva, seguindo-se o vazio e apátia, depois as recordações e memórias trazendo a tristeza.
E ontem o meu dia foi vazio…Ontem não tive para quem ligar…
Mentira!
Ontem não pude ligar ao meu pai, mas não deixei de ligar a minha mãe.
Porque esta perda repentina, fez-me ver a verdadeira importância do tempo e nós não sabemos quando ele vai acabar…
Mesmo depois da tua partida ensinaste-me algo…Obrigada
Para ti papa ⭐
“Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas. Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa. A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias. Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta. Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança.
É maravilhoso quando conseguimos soltar um pouco o nosso medo e passamos a desfrutar a preciosa oportunidade de viver com o coração aberto, capaz de sentir a textura de cada experiência, no tempo de cada uma. Sem estarmos enclausurados em nós mesmos, é certo que aumentamos as chances de sentir um monte de coisas, agradáveis ou não, mas o melhor de tudo, é que aumentamos as chances de sentir que estamos vivos. Podemos demorar bastante para perceber o óbvio: coração fechado já é dor, por natureza, e não garante nada, além de aperto e emoções mofadas. Como bem disse Virginia Woolf: ‘Não se pode ter paz evitando a vida.’ ”
Ana Jácomo
The girl with silver hair.
Sinto muito a tua perda, um beijinho grande e muita força ❤
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Obrigada pó de arroz… ♥
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